Quão longe Alex "Poatan" Pereira realmente pode ir?
Conhecer o passado do atual campeão dos meio-pesados do UFC nos ajuda a dizer se o inédito "triplo campeonato" é uma possibilidade real ou mera fofoca marcial.
"Mãos de Pedra"
Hoje, quem assiste Alex "Poatan" Pereira ser ovacionado em um shopping no Canadá como uma celebridade não imagina os demônios que ele teve de superar recentemente para estar ali.
Esse "popstar", que ao invés de levantar seu público com coreografias, derruba seus oponentes com cruzados de esquerda, teve que superar a pobreza e o alcoolismo ao mesmo tempo.
Apesar de sempre exaltar suas raízes indígenas, Alex nasceu em São Bernardo do Campo, talvez o município mais industrial do Brasil, cheio de montadoras de carros e fumaça. São Bernardo faz parte da região metropolitana de São Paulo, que é a maior cidade do mundo no hemisfério sul.
Ou seja, Poatan (que significa "mãos de pedra" em Tupi) desenvolveu "mãos duras" porque nasceu e foi criado em uma brutal "selva de pedra", e teve que se virar desde muito novo.
Sendo "mais um" entre os 12 milhões de paulistanos, sem oportunidades, largou a escola aos 12 anos de idade e foi trabalhar em uma borracharia. Segundo ele, era normal trabalhar até 10 horas por dia.
Até os 21 anos de idade, os únicos golpes que Alex conhecia envolviam marretas e pneus. Alex então foi apresentado ao Kickboxing e sua vida começou a mudar para melhor. Segundo ele próprio, a arte marcial foi o que o salvou do alcoolismo e de uma vida cheia de sofrimento.
Porém, essa cura não foi nada simples.
Durante os 4 primeiros anos de treino (dos 21 aos 25), Alex continuou a beber normalmente, apesar de estar treinando profissionalmente. O campeão dos meio-pesados do UFC afirma que chegava a beber 1 litro de cachaça por dia (teor alcoólico de aproximadamente 40%). O mais impressionante é que, mesmo com esse estilo de vida, tornou-se campeão brasileiro de Kickboxing.
"Cara de Pedra"
Alex, que hoje conta com mais de 2,2 milhões de seguidores apenas no Instagram, tornou-se extremamente popular com uma espécie de "anti-carisma".
Ao sempre olhar diretamente para o adversário ou câmera, sem esboçar a mínima emoção, seja de alegria ou raiva, medo ou coragem, Poatan chamou muita atenção, e a imagem perfeita para representá-lo passou a ser o "stone face": 🗿.
Essa "cara de pedra" significa uma ausência de emoções, frieza, o que para uma situação de luta pode ser bastante interessante. Portanto, essa postura de Poatan pode ter muito a ver com a superação da sua provável maior luta até hoje: contra o álcool.
O que eu queria era ser um cara controlado (…) chegar na festinha e beber uma, duas latinhas de cerveja e ficar tranquilo (…) Quando eu fiquei 6 meses sem beber eu falei "pô, eu sou controlado", agora vou beber só uma latinha (…) (risos) ah, não tinha fim não".
Aparentemente, a "cara de pedra" se manifesta somente nos momentos que pedem seriedade. Ao se expor mais nas redes sociais, seu lado mais "emotivo e humano" foi revelado, não faltando sorrisos na relação com seus filhos, com sua agora ex-namorada e ,principalmente, na amizade com o também ex-campeão do UFC, Glover Teixeira.
Às vezes eu vejo o pessoal bebendo e penso "caramba, como é que conseguem?" (…) quando eu bebia, eu estava alegre ali, naquele momento, entende? Mas hoje eu sou alegre o tempo todo.
Quando questionado sobre qual foi o "momento de virada" que o fez abandonar o álcool após 4 difíceis anos de batalha, porque exatamente naquele momento, Alex respondeu:
Por que? Porque eu sei onde eu quero chegar e eu sei onde eu vou chegar, entendeu? Você tem que ter uma direção, você não pode sair andando, sem rumo. Você tem que falar assim: eu tô aqui e vou chegar lá, entendeu? Aí você consegue.
As citações acima foram retiradas do Connectcast Podcast, gravado em 4 de abril de 2022. Essas falas de Pereira foram ditas apenas oito meses antes de conquistar seu cinturão ao vencer o então campeão dominante dos pesos médios, Israel Adesanya, no Madison Square Garden, NY.
Bem, ele realmente sabia onde queria chegar e chegou lá.
No ano seguinte (2023), apesar de perder o cinturão dos médios na revanche contra Adesanya, fez história novamente ao conquistar o cinturão na categoria dos meio-pesados.
Um terceiro cinturão "de ouro"
Nesse ano, Alex completa 37 anos de idade, ou seja, já está nos fim da vida últil de sua longa carreira, apesar dos resultados espetaculares que tem obtido.
Três opções se apresentam para o futuro do campeão que, até o momento, ainda está sem luta marcada:
- Defender seu título nos meio-pesados (mais provável).
- Descer de categoria e disputar o cinturão dos peso-médio novamente (comentou essa possibilidade em suas redes sociais após a derrota de Sean Strickland por Dricus Duplessis no UFC 297).
- Subir de categoria e disputar o cinturão dos peso-pesado (feito inédito)
As três opções são, sem dúvidas, interessantes. Contudo, a única inédita seria a tentativa do triplo campeonato, algo jamais feito na história do UFC. Also, inclusive, que muitos julgam impossível.
Muitas especulações já foram feitas, mas o futuro de Alex continua incerto. Uma coisa, contudo, é bem certa: não é nada prudente duvidar desse lutador com mãos de pedra, cara de pedra e cinturões de ouro.
Uma pessoa muito mais inteligente do que eu uma vez me disse que não devemos avaliar as pessoas por onde elas estão, mas por onde elas estão "menos" o lugar onde elas começaram. É esse "delta" que realmente demonstra a potência e força do indivíduo.
Poucas vezes vi "deltas" tão grandes como o de Alex, e, quando se trata de pessoas desse tipo, não é prudente duvidar, pois o "impossível" já foi desmentido muitas vezes e se torna pouco relevante.
O triplo campeonato é, sim, uma possibilidade para Alex. Aguardemos!
